sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Para sempre - Parte 3

Ler o seu nome me fez ficar paralisada. A carta foi feita no dia 10 de Março de 2000, exatamente um dia antes de completarmos 7 anos de namoro. Exatamente no dia do seu acidente. Aquela carta talvez não fosse normal, pois sobreviveu ao dilúvio que eu havia causado bem acima dela. Depois de anos, parei para refletir em tudo e me senti a pior pessoa do mundo. Ele não era só o namorado perfeito, ele era a pessoa, a criatura, o ser mais perfeito que existia na face da terra. E eu, a melhor idiota que ele poderia ter arrumado para amar. Eu nunca fui tão sentimental, mas o amava tanto...E ele era esperto o suficiente para me entender e eu sei que ele sabia que ele era a razão da minha existência, da minha verdadeira felicidade. Mas continuei me sentindo uma imbecil. Se eu não tivesse pedido para ele ir pegar o livro que eu reservei na biblioteca, se o motorista não tivesse atendido o telefone bem na hora que o Ricardo fosse atravessar a rua, ou se ao menos, eu estivesse ao seu lado para puxá-lo para a calçada, eu não estivesse sentindo tanto frio esta noite. Talvez eu nunca limpasse essa estante, talvez estivéssemos realmente casados, talvez, ele pudesse me dar boa noite, todas as noites, por mais tempo. No meio dos outros papeis caídos no chão, estavam nossas fotos. Algumas delas. As mais especiais, para ser mais exata. O dia em que ele me pediu em namoro, a primeira foto do nosso beijo, do nosso abraço, das nossas caretas...Fotos que se duvidar, poderia até sentir o cheiro daquele momento, o calor, o sentimento...Poderia ouvir ele me chamando de linda e eu o ignorando. Podia ouvir meus pensamentos, me perguntando o que eu haveria feito para ter tanta sorte...Fui no banheiro lavar o meu rosto, minha cabeça doía de tanto chorar, precisava me acalmar. Nessas horas, eu tinha mesmo que estar sozinha em casa? Peguei minha melhor caneta, uma folha do meu caderno da faculdade, liguei o som, sentei-me a mesa e comecei a escrever...

Continua - Parte 2

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Para sempre - Parte 2

Você sabe como ninguém que nunca fui bom com cartas, mas preciso te explicar tudo o que eu sinto, e dizem que através de uma carta é a melhor opção para isso, mesmo eu não sabendo nem como começar uma. Juro que me lembro do primeiro dia que te vi. Você estava de maria chiquinha e chegou sem falar com ninguém na escola, tínhamos 11 anos. Foi um longo ano até completarmos 12 e eu te pedir em namoro pela milésima vez e finalmente, ouvir um sim da sua boca. Durante um ano, chorava toda noite, escondido, depois de ouvir que você nunca namoraria com um nerd, e olhe você agora, com o melhor aluno da faculdade de Medicina. Esperei até os 13 para te dar o primeiro beijo e levar meu primeiro tapa na cara. Lembro que você ficou duas semanas sem falar comigo...Você sempre fica linda quando está irritada, daí veio o apelido Doce Joana, irônico, não? Aos 14 fizemos nossa primeira viagem com teus pais, para uma praia que não me recordo o nome, total programa de índio, mas foi perfeito, só por te ver na praia, sem maquiagem e naquele momento, vi o que nenhuma maquiagem conseguiu me mostrar, como você era linda e como eu te amava, sem nenhuma dúvida. Ser teu príncipe na tua festa de 15 anos foi o que marcou nosso "noivado", com a aliança que eu te dei e você achou careta. Tive que esperar até os 16 para você usá-lo em público. Sentia um orgulho enorme de estar ao teu lado, e você não acreditava, mas olhar para você era minha melhor distração. Teus olhos eram azuis, eu dizia quem eram os meus faróis. Teus cachos avermelhados me hipnotizavam, igualmente as suas sardas, que você tentava escondê-las. Quando você completou 17, não te via mais como uma menina, nem como a minha menina, te via como a minha mulher e por mais que falassem, não me cansei de você antes e não vou me cansar agora. Você nunca acreditou que eu te amaria para sempre, mas eu prometi, não foi? Te pedi em casamento aos 18, mas como eu te conheço o bastante, sabia que não iria aceitar, pelo menos eu tentei e não vou desistir. Seu ciúmes histérico me fazia rir, você realmente ficava vermelha quando estava nervosa. Hoje, com 19 anos, completamos 7 anos de namoro e eu te pergunto: Quer casar comigo? Prometo nunca te largar, nunca te fazer mal, nunca pensar em te deixar. Por que talvez você não acredite no eternom mas meu amor por você já é Para Sempre e você não pode fazer nada a respeito. Vou levar nossos momentos para onde eu for, e quando eu não estiver mais aqui, te encontrarei nos teus sonhos, não até o fim, e sim, até o sempre. Teu beijo é o mais doce, teu abraço é o mais acolhedor e teu amor é o mais sincero.

Obrigado pela existência no mundo, no meu mundo.
Felicidades para nós,
Do teu futuro alguma coisa,
Ricardo José

Continua - Parte 1

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Para sempre - Parte 1

Era uma noite fria, muito fria, pensei até na hipótese de nevar, mas isso não ocorreu. Nesse mesmo dia, completavam-se dez anos de saudades, de lembranças. Aquela mesma dor que eu senti nos primeiros anos, veio de um modo tão intenso, como eu nunca mais havia sentido antes. Era uma quarta-feira como todas as outras, exceto o frio intenso, claro. Não estava passando nada que eu realmente me interessasse na televisão, a internet estava insuportávelmente lenta e eu precisava atualizar meu MP3. Resolvi fazer algo produtivo, arrumar a casa. Infelizmente, só existiam 3 copos, uma xícara, dois pratos e alguns talheres sujos, não era suficiente para ocupar meu tempo. Fui arrumar meu quarto, porém, havia esvaziado meu guarda-roupa no dia anterior e mandado as roupas para um asilo. Lembrei então do motivo da minha alergia, a estante da sala e resolvi finalmente enfrentá-la. Coloquei todos os livros no chão e fui passando um pano molhado na estante. Talvez se eu quisesse achar um cemitério de baratas, alí era o lugar certo. Também limpei livro por livro, desde os de receitas da minha querida vozinha conhecida na minha rua como Dona Benta, até as minhas enciclopédias da época de criança. Achei alguns albuns também, com fotos minhas e dele, mas tentei ignorá-las. Não que eu não gostasse delas, mas aquele não era um bom momento para limpar meus olhos. Quando fui colocar o último livro, derrubei uma pasta grossa, que por azar meu, estava aberta e lotada de papéis velhos. Contei até 50 e fui pegando um por um, tinha tempo suficiente para tudo aquilo. De repente, um papel me chamou a atenção. Uma folha de oficio rosa, com bastante poeira, mas notei que era rosa. Não havia envelope, nem selo. Estava apenas dobrada ao meio e escrito com caneta preta: Para a minha doce Joana. Não me sentiria culpada se abrisse, havia meu nome ali e eu só conhecia uma pessoa que me chamava de Doce Joana. A curiosidade foi maior e depois de alguns segundos - poucos, mas segundos - desdobrei o papel e comecei a ler. A carta dizia...

Continua